28/03/2024

Seis anos depois, comerciantes ainda sofrem com “legado” do VLT

Empreendimentos que estavam no trajeto do modal foram fechados ou pagam dívida até hoje

Seis anos após o início da implantação, empresários com pontos comerciais ao longo do traçado do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) ainda sofrem com as consequências negativas da obra inacabada.

A construção do que seria o novo modal de transportes de Cuiabá teve início em 2012 e foi paralisada em 2014. Neste período, diversas empresas não conseguiram sobreviver aos entraves causados às próprias atividades. O principal deles, o fechamento das vias, que impedia os consumidores de chegarem às lojas.

À época, a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) estimou que, apenas na Avenida da FEB, em Várzea Grande, 40% das empresas fecharam as portas.

Na Avenida da Prainha, o empresário Sérgio Odilon Rotini se viu forçado a encerrar a loja de utilidades domésticas que manteve no local por 34 anos.

“As obras começaram a interferir no trânsito, algo que é fundamental para o comércio. Nós começamos a perder clientes, começamos a ter problemas de ordem financeira. Nesse meio tempo, o homem que nos alugava o prédio pediu a devolução”, conta o empresário.

 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Obras VLT Várzea Grande

Obras não acabadas do VLT interferem no comércio até a atualidade

De todas as perdas que sofreu, Rotini lamenta ter tido que demitir os mais de 20 funcionários que mantinha no auge da empresa.

“Quando falamos em emprego, socialmente, você sente no coração. É sentido na carne, perder o emprego é um dano irrecuperável. E quem se responsabiliza por isso? Ninguém. Até agora, ninguém”, lamenta.

A proprietária da Papelaria DuNorte, Iara Nunes, classificou o que ocorreu no período como “terrorismo”.

Ela conta que a Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo (Secopa), hoje extinta, enviou aos comerciantes da região da Prainha – onde está localizada a papelaria – uma notificação para desocupar os imóveis.

O documento exigia dos empresários a entrega de balanços e rendas mensais para que fossem calculadas as verbas indenizatórias pela Secopa.

“Nada nos foi pago. A indenização não chegou nem a ser calculada. Os comerciantes da Prainha gastaram muito contratando auditores contábeis para fazerem os cálculos, que foram apresentados na Secopa. Mas nada foi feito”, disse.

A papelaria, há 40 anos no mesmo local, após a notificação, alugou um imóvel na Avenida Getúlio Vargas. Foram mais de dois anos de reformas, e cerca de R$ 200 mil gastos, até a desistência da mudança.

“Nós sentimos o baque financeiro até hoje. Para realizar a reforma do outro imóvel, foi feito um FDO [empréstimo] pelo Banco do Brasil que vamos pagar até 2020. Após esse período, pagamos multa para devolver o imóvel, tivemos o pagamento de aluguel durante dois anos enquanto reformava e não mudava… Foi muito dinheiro”, disse proprietária.

Uma das herdeiras da Farpel, empresa de embalagens na Avenida Prainha, Seila Noeli, disse que chegou a fechar a empresa durante um período para recuperar as finanças da loja.

“As vendas caíram tragicamente, cerca de 50%. Diminuiu muito. Para reduzir o prejuízo, nós começamos a fazer vendas externas para a loja não fechar. Porque esperar os clientes virem na loja como antes, não poderíamos”, explica.

“Assassinato”

Alair Ribeiro/MidiaNews

Sérgio Rotini

Empresário, Sérgio Odilon Rotini, classifica fechamento de comércio na região da FEB como ‘assassinato’

O empresário Sergio Rotini classificou como “assassinato” o que sofreram os comerciantes da Avenida da FEB em Várzea Grande.

“Foram mais de 200 comércios fechados devido às obras do VLT. No caso da FEB, naquele pedacinho, vejo o que é ‘assassinato’. A loja estava funcionando, e tinha um trator passando rente à parede do comércio. Foi uma falta de respeito. Eu vejo as autoridades amorfas nessa situação’, disse.

A proprietária e financeiro da empresa MotorMaq, Thayane Dias, sofreu por duas vezes as consequências das obras para a construção do VLT.

A primeira foi quando teve que sair do local em que estava há seis anos. Com sua loja próxima à ponte Julio Muller, ela recebeu a informação de que, em razão da obra, perderia o recuo na calçada e o estacionamento que mantinha para clientes.

Ela conta que a notícia da chegada do modal foi recebida com alegria pelos comerciantes. “Até então, era uma felicidade a chegada do VLT para os comerciantes da região”, disse.

Assim, em 2013, alugou um local mais à frente da Avenida da FEB. O que ela não sabia é que ali também não estaria livre dos impactos.

“Foi muito ruim, porque nós tínhamos recém-locado o espaço. Nós sabíamos que haveria a obra, mas não imaginávamos que o impacto dela seria tão grande, não imaginávamos a parte ruim desse processo. No período da escavação do canteiro, a empresa ficava em frente e o acesso era difícil”.

Com parte da obra feita, o asfalto em frente à loja foi rebaixado, e a rampa de estacionamento do local ficou muito íngreme e exigiu reforma. Ela conta que foi preciso gastar R$ 12 mil com a adequação.

“Fomos informados pela Prefeitura de Várzea Grande que as calçadas seriam padronizadas. Eles nos cederam o material, e nós pagamos a mão de obra. Mas aqui do meu lado, apenas a nossa empresa fez a calçada”.

 

Fonte: http://www.midianews.com.br

Similar Articles

Comments

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Advertisment

Powered by WP Bannerize

Recentes

Advertisment

Powered by WP Bannerize