(Por: PABLO RODRIGO )
O ex-chefe de gabinete Silvio Corrêa, delator que gravou políticos de Mato Grosso recebendo maços de dinheiro vivo, foi gravado em áudio que pode acabar anulando a sua e a delação “monstruosa” do ex-governador Silval Barbosa (PMDB) e de seus familiares.
Durante a gravação de 1 hora e 24 minutos, Corrêa citou indícios de omissão de informações sobre práticas de crimes no processo de negociação do acordo com o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.
Este seria o segundo acordo de delação de Janot que fica sob suspeita. Antes, o acordo de delação premiada da JBS que afetou dezenas de políticos, incluindo o presidente da República, Michel Temer (PMDB), foi suspenso e resultou nas prisões de Joesley Batista e Ricardo Saud.
A gravação foi feita em 28 de agosto pelo ex-secretário de Indústria e Comércio do Estado Alan Zanatta. Corrêa, em prisão domiciliar desde a homologação da delação pelo ministro do STF Luiz Fux, teria insistido para conversar com ex-secretário que, temendo o delator, decidiu gravar a conversa com o amigo de longa data.
Durante o áudio, Corrêa diz que o valor que teria de devolver aos cofres públicos, cerca de R$ 500 mil, seria pago por Silval Barbosa, diferentemente do que consta no acordo de delação.
O delator também assume ser dono de um garimpo, que ocultou da PGR. “O momento é… complicado para todo mundo (…) mas, também acho que ele não tem essa mobilidade que ele tinha antigamente. Mas pelo menos tô com um garimpo né”, diz trecho do áudio.
O delator ainda afirma que falou em sua delação “coisas que quis”. “Só isso, só isso e falei algumas coisas que eu quis. Só.”
Já em relação ao ex-governador, Corrêa diz que ele não possui nenhuma prova. Em um dos trechos da gravação, o delator explica para Zanatta que Silval chegou a falar para um de seus funcionários conhecido como Coxinha: “Ele [Silval] falou pro Coxinha: ‘se me prender, pode ficar tranquilo, que eu tenho… tô com a mala pronta, tá com documentos, no outro dia todo mundo cai’.”
Em relação ao prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (PMDB), que aparece colocando maços de dinheiro no paletó, chegando a deixar cair parte no chão, o delator diz que foi gravado em contexto diferente e que foi incluído na delação para as denúncias ganharem mais visibilidade.
Pesquisa
Em outro trecho, o delator afirmou que um valor recebido, de R$ 20 mil, tinha como objetivo quitar uma dívida de pesquisa de campanha com o empresário Marco Polo Pinheiro, irmão do prefeito e dono do Instituto de Pesquisa Mark. Corrêa tinha uma dívida total de R$ 50 mil com o empresário.
O áudio foi apreendido na casa do prefeito Emanuel Pinheiro durante a 12ª Fase da Operação Ararath, denominada Malebolge –referente à obra mais famosa de Dante Alighieri, “A Divina Comédia”–, no último dia 14.
Outro lado
Zanatta disse à Folha que realizou a gravação para se proteger de uma eventual gravação em seu desfavor.
“Eu fiz parte do governo Silval Barbosa e nunca fiz inimizades com quem era do governo. Então quando, uns 40 dias atrás, o Silvio [Corrêa] insistiu para me ver, decidi ir e resolvi gravar a conversa porque estamos vendo aí que todo mundo está gravando todo mundo. Então fiz isso mais por medo do que com outra intenção”, disse.
“Eu resolvi entregar para o Emanuel porque ele era meu amigo. Disse: ‘Olha isso não me serve, mas acho que para você serve'”, afirmou.
Já a defesa do prefeito Emanuel Pinheiro disse, por meio de nota, que o prefeito, assim que soube da gravação, decidiu utilizar o áudio em sua defesa no STF (Supremo Tribunal Federal).
“Ao ter conhecimento da gravação do diálogo entre o senhor Alan Zanatta e o delator Silvio César Corrêa Araújo no final do mês de agosto, decidimos usá-la como prova porque a conversa é reveladora no sentido de descortinar fatos que foram omitidos na colaboração premiada”, diz trecho da nota.
E disse ainda que solicitou que a Procuradoria-Geral da República (PGR) analisasse o conteúdo da gravação, além de convocar Alan Zanatta para prestar depoimento.
Já a defesa de Corrêa afirma “que todos os fatos foram devidamente relatados em seu acordo de colaboração, conforme determina a lei.
Não houve reserva mental, tampouco apresentação de provas ou fatos divergentes da realidade”.
A defesa informou ainda não ter conhecimento da gravação.
Fonte: www.midianews.com.br