O objetivo de integrar os cães na terapia para as crianças é tornar a atividade mais alegre e motivadora
Nascido com 36 semanas e com parte do cérebro paralisado, Felipe Souza da Silva, nove anos, é o mais velho de três irmãos e uma das seis crianças atendidas pelo projeto “Cãominhar”, que utiliza os cães do Grupo Especial de Segurança na Fronteira (Gefron) para reabilitação das crianças.
Sentado ao lado da sua mãe enquanto se alimentava, o garoto estava impaciente e não havia distração que fizesse o pequeno se acalmar. Sua reação foi outra quando estava ao lado da Gaia, um dos cães que fazem parte do projeto, uma labradora dócil e que conseguiu arrancar sorrisos e gritos do Felipe. Antes, o menino que estava sem consolo, agora se animou para fazer uma atividade de fisioterapia acompanhado pelo animal.
Enquanto a sua fisioterapeuta o segurava para mantê-lo caminhando, Felipe atendia aos comandos da policial e adestradora da Gaia, Vanessa Miranda de Paula, para fizesse o percurso andando, e posteriormente, jogasse a bola para o animal buscar. Felipe fez tudo certo e ainda chamava corretamente o nome da labradora.
A mãe do menor, Janine Aparecida de Souza, acompanhou tudo e disse que desde o início da terapia com o animal, a mudança no comportamento de seu filho já é perceptível.
“No começo ele tinha um pouco de medo, mas agora se sente mais confortável. Após a atividade com o cão eu notei que ele já melhorou bastante em vista do que era. Agora interage melhor com as pessoas”, explica.
Felipe é uma das crianças atendidas pelo Centro de Reabilitação do município de Cáceres (a 230 km de Cuiabá). O trabalho desenvolvido dentro da unidade é resultado da parceria do Grupamento com a prefeitura e, atende inicialmente, crianças com autismo e paralisia cerebral. Quatro cães são utilizados em sessões de fisioterapia uma vez por mês. O objetivo do projeto é também atender, posteriormente, idosos e pessoas que sofreram Acidente Vascular Cerebral (AVC). Cerca de 800 pessoas, entre crianças e adultos fazem terapia no Centro de Reabilitação.
Segundo a policial Vanessa Miranda, que acompanha a reabilitação das crianças com os cães, o emprego do animal nas atividades de terapia possibilita que o paciente fique mais motivado e espontâneo durante as sessões, mas alerta que o trabalho não pode ser feito com qualquer criança. “Os menores precisam primeiro se interessar pelo tratamento com o animal. Aqui na reabilitação os profissionais de saúde selecionaram os pacientes que seriam atendidos pelo projeto. Quando a gente coloca o cão na sessão, tiramos o foco da dor da pessoa e passamos para o animal”, argumenta.
Adrian Estavam Silva, seis anos foi diagnosticado com paralisia cerebral no lado esquerdo e perdeu os movimentos das mãos e pernas. “Eu só observei que ele tinha problema após os nove meses, porque ele não sentava e nem se movimentava como como uma criança normal. Com o tratamento, já melhorou bastante, ele gosta muito dos cachorros”, disse a mãe de Adrian, Catarina da Silva.
O coordenador do Gefron, tenente-coronel PM José Nildo de Oliveira, reforça a ideia de que o trabalho policial vai muito além do combate à criminalidade. “Com essa parceria, nos entendemos a importância de estar inserindo os cães na reabilitação de crianças. Qualificamos os policiais e trouxemos essa expertise para cá. Para nós do Gefron, é uma honra enquanto instituição, estarmos na área da saúde além do combate à criminalidade”, pontua.
O projeto “Cãominhar foi lançado nesta quinta-feira (241.06), no Centro de Reabilitação de Cáceres e contou com a participação dos policiais do Gefron, profissionais multidisciplinares que atuam na unidade e o secretário municipal de Saúde, Antônio Carlos de Jesus Mendes.
Canil Integrado
Dez cães auxiliam as instituições de Segurança Pública na faixa de fronteira entre Brasil e Bolívia. A unidade foi criada em outubro de 2013 e regulamentada em novembro de 2014. Os cães atuam em três frentes: faro de drogas, busca e resgate e captura, abordagens de guarda. Os cães farejadores são os mais empregados nas ações policiais.