04/10/2024

Por que Marta cansou da política

Diante de um Congresso que promete ficar mais conservador e de partidos que só pensam em se perpetuar no poder, a senadora Marta Suplicy anuncia que deixará a vida parlamentar

 

É preciso admitir que Marta Suplicy nunca temeu uma controvérsia. Ela sempre exibiu verve afiada para o debate, desde que enfrentou críticas de conservadores contra seu quadro sobre sexualidade, no extinto “TV Mulher”, exibido na TV Globo nos estertores da ditadura militar. Sua agenda política envolveu questões femininas e de minorias, como a LGBT, causas afeitas à esquerda.

Porém, quando considerou que não conseguia conviver com a roubalheira no PT, deixou o partido onde militou por 33 anos. Mas sua mudança para o PMDB, em 2015, às vésperas do impeachment de Dilma, que apoiou sem titubear, não lhe trouxe o conforto esperado. Afinal, continuou frequentando o mesmo ambiente de uma política pouco ortodoxa. Desencantada, jogou a toalha: disse não à proposta de ser vice do presidenciável Henrique Meirelles, do MDB, anunciou que vai se desfiliar do partido e deixar a vida parlamentar ao final de seu mandato no Senado, em 31 de janeiro de 2019.

Aos 73 anos, ela pretende se dedicar um pouco mais aos três filhos e seis netos e encontrar outros caminhos para ajudar a sociedade. “Cansei da política como ela é. Não vale mais a pena estar no Congresso”, desabafou Marta à ISTOÉ na última terça-feira 7.

Marta revela-se farta da vida parlamentar, dos conchavos feitos nos bastidores. Do outro lado do balcão, no entanto, ela promete continuar atuando junto à sociedade civil. Na entrevista à ISTOÉ, ela não escondeu sua decepção diante do que chamou de “retrocesso civilizatório”.

Ela se referia aos cortes nos programas sociais, na Saúde, na Educação e nas políticas de inclusão pelas quais sempre batalhou, além de sua desilusão com o crescimento da bancada conservadora no Congresso. Sobre a possível composição do Senado na próxima legislatura e as pautas que deverão ser debatidas, sempre em desalinho com os anseios da sociedade, ela antecipou-se: “Não será como eu gostaria de passar os próximos oito anos”.

Sistema falido

Na sua avaliação, apesar da legitimidade do processo político construído a partir da redemocratização, está faltando conexão dos atuais partidos com as prioridades da população. Para os líderes das siglas, segundo ela, hoje o que importa é garantir presença na propaganda de TV para fazer a bancada crescer. “Esse sistema de coalizão faliu completamente. Temos que ter foco na reforma política.

Do jeito que está não dá”, afirmou. Seus críticos dizem que ela deu “um tiro no pé” ao trocar Dilma, Lula e os velhos companheiros do PT — muitos presos ou enrolados na Justiça —, por gente do MDB que em nada guarda relação com suas bandeiras, o que a deixou isolada politicamente. Parte da culpa pela mudança é atribuída ao atual marido Márcio Toledo, alinhado com grandes empresários e Michel Temer. Essa guinada política teria solapado parte de sua militância, principalmente na periferia de São Paulo. Pura especulação.

Até a desistência da política, Marta seguia em segundo lugar (16,7%) nas intenções de voto, o que lhe garantiria a reeleição. O primeiro colocado nas pesquisas é justamente o petista Eduardo Suplicy (24,2%), seu ex-marido, com quem viveu por 37 anos. Por meio das redes sociais, Eduardo desejou felicidades: “Com certeza ganham os nossos netos”. À ISTOÉ, seus filhos e músicos Supla e João, disseram apoiar a decisão da mãe.

“Ela vai continuar fazendo a diferença na vida das pessoas”, disse Supla, enquanto que João entende que ela poderá “continuar atuando em favor dos homossexuais, das mulheres e dos jovens”. A senadora, no entanto, não descarta, no futuro, candidatar-se a algum cargo executivo. O ponto final foi só no Parlamento. É ver para crer.

 

Fonte     https://istoe.com.br

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