18/04/2024

Um sonho de motorista: conheça Josimar, um profissional nota 10

Criador do grupo de WhatsApp da linha 330, ele até já encontrou o amor no coletivo

(Por Caroline Rodrigues, o livre)

Josimar criou grupo de whatsapp para avisar os passageiros onde está o ônibus (Foto: Suellen Pessetto/ O Livre)

Josimar Carvalho de Andrade, 42, sempre sonhou ser motorista e, dentro do ônibus, conquistou amigos e até mesmo o amor, já que conheceu a atual noiva no coletivo. Ele está há sete anos na linha 330 (CPA 1/ UFMT), em Cuiabá, e é um exemplo de profissional, que merece ser reconhecido no Dia do Motorista, comemorado nesta quinta-feira (25).

Diariamente, sua rotina começa às 3h30 da manhã, quando sai de casa em direção à garagem. O horário da primeira viagem é 5h30 e, no ponto de ônibus, o “bom dia” é certo.

“No começo, eu falava e não era respondido. Mas deixava pra lá. Com o tempo, as pessoas passaram a retribuir o cumprimento e ainda a fazer o mesmo com os demais passageiros”, conta.

A energia positiva contagiou a todos – desde os estudantes secundaristas, reconhecidos com o terror de qualquer veículo pela algazarra, até os trabalhadores e gente de toda formação.

Às 8h30, acaba o turno inicial. É a hora do intervalo, que dura até às 11h. “Tempo para comer e descansar. Mas, nossa rotina é pesada e logo precisamos estar aptos ao segundo turno”.

A partir daí, Josimar segue até às 19h, sem parar. “Eu sei que não é fácil, porém não faço reclamações. Não fico com raiva porque alguma coisa quebrou ou por perder o celular. Só quero levar coisa boa. E sou assim em todo lugar, não só no trabalho”.

Amor pelo retrovisor

Josimar conheceu a noiva no ônibus. Ele lembra que ela entrou no coletivo depois de uma chuva forte e estava com o cabelo todo molhado. “Fiz uma piadinha ridícula, dá até vergonha”.

Depois disto, eles começaram a cruzar os olhares pelo retrovisor, até que ele resolveu tomar coragem de chamá-la para comer algo.

No encontro, houve o pedido oficial de namoro, que na semana passada passou para um segundo estágio, o noivado.

“Já comprei um terreno. Estou construindo a casa e, quando estiver tudo organizado, vamos nos casar”.

Casal se conheceu no ônibus e tem planos de ir ao altar em breve (Arquivo pessoal)

Josimar ficou conhecido por criar um grupo de WhatsApp – que hoje tem 350 membros – e informar aos passageiros sobre o trajeto do ônibus. Toda vez que sai do terminal, ele avisa: “saindo do ponto final”.

A partir daí, a atualização da posição fica por conta dos usuários. Eles dizem em qual ponto estão, para preparar quem está esperando.

Muitas vezes, um amigo grita “segura motora, que fulano está correndo!”. Então Josimar anda um pouco mais devagar para não deixar ninguém para trás.

“Desde que comecei o trabalho, percebi que ficamos mais amigos e o respeito entre todos aumentou”.

Preconceito

Ser criado no Dom Aquino, ao lado do ponto final do ônibus, fez Josimar ter o sonho de ser motorista. Ela conta que a mãe dele trabalhava na área da saúde e se esforçou muito para colocá-lo na mesma área, mas sem sucesso.

“Sempre sonhei trabalhar com coletivo. Quando era criança, conversava com os motoristas. Antes, era possível seguir viagem sentado no motor, para ter a visão privilegiada da viagem”.

Quando completou 20 anos, capacitou-se para ser motorista profissional e, pouco depois, assumiu o volante. “Eu amo o que faço e sei que os horários muitas vezes comprometem nossa relação familiar. No entanto, o que acho mais difícil é ver o preconceito com que alguns nos tratam”.

Josimar sempre foi cuidadoso e metódico no trabalho, mas afirma que sempre temeu o julgamento das pessoas. Até que um dia foi surpreendido pela solidariedade dos passageiros.

Ele conta que um carro avançou na preferencial e, no choque, a condutora morreu. “Esse acidente foi um divisor de águas na minha vida. Eu saí correndo e consegui tirar o filho da vítima e a mãe dela das ferragens. Porém, não consegui salvar a mulher”.

Naquele momento, quando já se preparava para receber as acusações, foi surpreendido com a solidariedade dos passageiros. “Todos saíram em minha defesa. Em nenhum momento ouvi condenações. Era visível que todos estavam abalados com a situação, mas foram justos comigo”.

Após cumprir os afastamentos, ele voltou para o volante ainda mais apaixonado pelo trabalho e disposto a oferecer um serviço cada vez melhor para o cliente.

 

Fonte: https://olivre.com.br

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