O governador Camilo Santana (PT) afirmou nesta quarta-feira (9) que 21 presos de facções criminosas que atuam no Ceará foram transferidos para presídios federais, após uma onda de ataques que atinge o estado há uma semana. A medida já havia sido anunciada.
Santana também disse, em entrevista à GloboNews, que o governo vai endurecer as medidas contra a entrada de celulares nas unidades prisionais. Segundo ele, os ataques criminosos são uma reação a uma “ação forte que o governo está realizando dentro do sistema prisional” e o governo não vai recuar. “Vamos endurecer ações dentro do sistema e fora do sistema.”
Até a madrugada desta quarta-feira, foram confirmados 164 ataques em 41 dos 184 municípios cearenses. Os criminosos incendiaram ônibus, transportes escolares, prédios públicos e comércios na capital e no interior. A Secretaria da Segurança Pública do Ceará informou que 185 suspeitos de participação nos crimes foram detidos.
De acordo com o governador, líderes de facções criminosas que estavam presos Ceará foram transferidos para presídios federais em outros estados. O governo federal já havia oferecido 60 vagas para receber criminosos do Ceará. “Já foram transferidos 21 presos e nós já estamos trabalhando, inclusive, para realizar novas transferências de presos para presídios federais”, afirmou.
Entenda o que está acontecendo no Ceará
- O governo criou a secretaria de Administração Penitenciária e iniciou uma série de ações para combater o crime dentro dos presídios.
- O novo secretário, Mauro Albuquerque, coordenou a apreensão de celulares, drogas e armas em celas. Também disse que não reconhecia facções e que o estado iria parar de dividir presos conforme a filiação a grupos criminosos.
- Criminosos começaram a atacar ônibus e prédios públicos e privados. As ações começaram na Região Metropolitana e se espalharam pelo interior ao longo da semana.
- O governo pediu apoio da Força Nacional. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, autorizou o envio de tropas.
- A população de Fortaleza e da Região Metropolitana sofre com interrupções frequentes no transporte público e com o fechamento do comércio.
Ações nos presídios
À GloboNews, Santana disse que o governo está mudando a política de controle e segurança, principalmente para evitar a comunicação dos detentos com as ruas. E afirmou ainda que o maior rigor no sistema penitenciário faz parte de um plano trabalhado em três eixos na área da segurança pública, iniciado após uma crise no sistema penitenciário, em 2016.
“Dobrei o número de agentes penitenciários, e agora no fim do ano tomei a decisão de que era uma área que precisava de uma intervenção mais forte do Estado. A verdade é que temos leis muito frouxas hoje no Brasil. Infelizmente, a polícia prende o bandido, mas ele continua a comandar o crime de dentro do presídio. O que eu estou fazendo é cumprir a lei dentro dos presídios”, disse.
Desde o início da onda de violência, 191 detentos foram autuados pelos crimes de desobediência, resistência e motim dentro das unidades prisionais do estado. Os indiciamentos ocorreram nas casas de detenções do complexo prisional de Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza. Mais de 600, drogas e armas foram apreendidas nas cadeias e presídios do estado.
Motivação dos ataques
Os atentados começaram após uma fala do novo titular da Secretaria de Administração Penitenciária do estado, Luís Mauro Albuquerque, que afirmou que iria acabar a entrada de celulares nos presídios e encerrar a divisão de presos nas detenções conforme a facção criminosa a que pertencem.
O secretário da Segurança Pública do Ceará, André Costa, afirmou que a nomeação do novo gestor das unidades prisionais motivou o início dos ataques. Em pichações em prédios públicos e residências, os criminosos pedem a saída de Mauro Albuquerque. “A criminalidade já conhecia o trabalho dele”, afirmou André Costa.
‘Não vamos recuar’, diz Camilo
Em outra entrevista, o governador já havia afirmado que não iria “recuar um milímetro” das medidas contra organizações criminosas, além de dizer que país precisa de um sistema integrado de combate ao crime.
“Eu sempre defendi que a questão da violência no Brasil precisa ser uma questão nacional. Precisamos de um plano, uma estratégia, uma pactuação, centros integrados de inteligência que possam passar informações de um estado para outro. Porque a dinâmica do crime se transnacionalizou. E quem tem que coordenar isso é a União, não pode um estado sozinho coordenar. Quem tem que ter esse papel é o governo federal”, disse o governador em entrevista ao Sistema Verdes Mares.
Na terça-feira (8), o governador se reuniu com a cúpula da Segurança Pública do Estado para traçar ações contra a criminalidade. As investigações estão concentradas na Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco). “Depois de me reunir com a cúpula da segurança durante a manhã, circulei pelas ruas de Fortaleza durante a tarde para conversar com nossos policiais, que têm sido guerreiros no combate ao crime”, disse Camilo Santana.
Reforço na segurança
Após os ataques no Ceará, 300 agentes da Força Nacional foram enviados ao estado na sexta-feira (4), e começaram a atuar no dia seguinte. Os ataques permaneceram, e o Ministério da Justiça anunciou o envio de mais 200 agentes.
A Força Nacional atua principalmente em Fortaleza e Região Metropolitana, que concentram cerca de 80% dos ataques. Eles formam blitze em “vias estratégicas”, já que a maior parte dos ataques são cometidos por criminosos em veículos.
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que já capturou 185 pessoas por envolvimento nos atos criminosos. Desse número, foram 156 adultos presos e 29 adolescentes apreendidos. Pelo menos 80 envolvidos foram capturados após a chegada da Força Nacional no estado.
O governador Camilo Santana também pediu apoio ao governador da Bahia, Rui Costa, que enviou 100 policiais militares ao Ceará. Agentes das polícias dos estados de Santa Catarina, Pernambuco e Piauí também serão enviados para reforçar a segurança.
Além disso, o governo do estado nomeou 373 novos policiais militares, que haviam sido aprovados no concurso público e passaram pela formação. Uma nova turma de 220 agentes penitenciários também recebeu a nomeação, antes prevista para o mês de março.
Fonte: g1.globo.com/ce